POC e COVID-19

A Perturbação obsessiva-compulsiva (POC) é caracterizada pela ocorrência de obsessões (pensamentos intrusivos e recorrentes que ocorrem contra a vontade da pessoa) e/ou compulsões (atos motores ou mentais repetitivos que permitem um alívio temporário da ansiedade provocada pelas ideias obsessivas).

Nesta perturbação é comum a presença de ideias de contaminação, ou seja, ter pensamentos incómodos sobre poder ser contaminado ou conspurcado com os mais diversos tipos de “germes”. Estas ideias surgem predominantemente após o contacto com superfícies consideradas contaminadas, tais como maçanetas de portas, torneiras, teclados, ratos de computadores, ou ainda as mãos de outras pessoas durante cumprimentos. As ideias de contaminação por sua vez levam à realização de compulsões, tipicamente a lavagem das mãos (quer uma lavagem simples com água e sabão, quer com outras soluções desinfetantes).

No contexto atual em que vivemos, o da pandemia da COVID-19, somos constantemente informados sobre a presença do vírus em diversas superfícies e instruídos a lavar frequentemente as mãos. Nesta situação particular, as pessoas que sofrem de POC estão especialmente vulneráveis, podendo ocorrer um agravamento da ansiedade e dos receios de contaminação, levando por exemplo, a uma lavagem excessiva das mãos que, em casos extremos, pode condicionar o surgimento de lesões cutâneas, para além do sofrimento mental provocado.  

Nesta fase poderá ser necessário proceder a alterações do projeto terapêutico previamente estabelecido, de acordo com as orientações das autoridades de saúde. O tratamento não se atrasa porque o objetivo final muda. A situação é desconfortável mas é também temporária.

Propomos que aplique as seguintes recomendações:

» Medo de contaminação:

Deve ser estabelecido um plano de segurança baseado apenas nas recomendações de organizações de saúde fidedignas:

  • Desinfectar as superfícies que são frequentemente utilizadas uma vez por dia, se tal se justificar (por exemplo, se esteve sempre em casa e não teve visitas não precisa de desinfetar a maçaneta da porta). Este processo não deve demorar mais do que alguns minutos por dia.
  • Lavar as mãos com água e sabão durante 20 segundos – após contacto com o exterior ou estar em local público, antes de comer, depois de ir à casa de banho e depois de tossir/espirrar/assoar o nariz. Se não tiver água e sabão, use um desinfetante para as mãos que contenha pelo menos 60% de álcool.
  • Antes de lavar as mãos pense se não o estará a fazer apenas porque leu ou ouviu alguma notícia que o fez sentir-se ansioso. Alguns destes comportamentos podem reduzir a ansiedade a curto prazo e dar-nos uma sensação de controlo, mas impedem-nos de aprender a viver com algum grau de ansiedade e de incerteza.
  • Se sentir necessidade de realizar mais algum cuidado, peça ajuda de um familiar/amigo, certificando-se de que é uma medida de segurança razoável.

» Medo do Perfeccionismo:

  • Lembre-se que ninguém se pode proteger do COVID-19 de forma “perfeita”, e ninguém espera que o faça. São necessárias medidas de segurança e higiene, mas sem comportamentos extremos de “perfeccionismo”; pode pôr em prática medidas de “senso comum”.
  • Lembre-se que as organizações de saúde  não estabelecem diretrizes de saúde pública a pensar em pessoas com POC e, assim, pode ser útil conversar com um amigo de confiança, um familiar e/ou técnico de saúde para perceber que medidas deve adotar. O contacto com um técnico de saúde pode ser especialmente útil para perceber como pode aplicar estas diretrizes sem agravar os sintomas da POC.

» Pensamento e receio de  “fazer mal” a outros:

  • Na situação de pandemia COVID-19, a preocupação e o medo de estar infectado podem agravar os receios de “ter infectado alguém” ou “poder infectar alguém no futuro” (acidentalmente ou de propósito). Estes pensamentos são designados por “pensamentos intrusivos” porque surgem de modo involuntário, contra a vontade da pessoa.
  • É importante estar atento ao agravamento dos “pensamentos intrusivos”, e dos comportamentos que estes pensamentos desencadeiam – “compulsões”; em caso de agravamento deverá contactar um técnico de saúde (médico assistente ou psicólogo).

O que não fazer?

  • Evite a tentação de aprender “tudo” sobre a COVID-19. Tente limitar o tempo e frequência de “consumo” de notícias ou informações relacionadas com a doença.
  • Não ignore as diretrizes de fontes confiáveis, independentemente de elas irem ou não contra o plano inicial de tratamento.
  • Não lave as mãos excessivamente, este comportamento pode provocar lesões na pele, diminuindo as barreiras protectoras da pele contra a infecção. Lavar as mãos durante 20 segundos é suficiente.
  • Não permita que o “distanciamento físico” seja sinónimo de “distanciamentos social”, utilize  redes de apoio – mantenha-se conectado:
    • Videoconferência, mensagens e telefone com amigos e família;
    • Rede de suporte online.