O que é a PHDA?
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma perturbação do desenvolvimento cerebral caracterizada por 3 sintomas principais: inatenção, hiperatividade e impulsividade. Exemplos destes são:
Défice de atenção
- Não prestar atenção a detalhes
- Dificuldades em manter atenção no desempenho de tarefas
- Parecer que não ouve quando se lhe fala diretamente
- Iniciar tarefas, mas ter dificuldade em terminá-las
- Dificuldade em organizar tarefas ou atividades
- Evitar tarefas que envolvam esforço mental mantido
- Perder objetos frequentemente
- Distrair-se facilmente com outras coisas
- Esquecer-se frequentemente de compromissos
Hiperactividade/ Impulsividade
- Mexer de forma irrequieta os pés ou as mãos/remexer-se na cadeira quando está sentado
- Levanta-se em situações em que é suposto permanecer sentado
- Sentir-se irrequieto
- Dificuldade em envolver-se com tranquilidade em atividades de lazer
- “Andar a mil” ou como se estivesse “ligado à eletricidade”
- Falar em excesso
- Responder antes de as perguntas terminarem
- Dificuldade em esperar pela sua vez
- Interrompe ou interfere nas atividades dos outros
É importante perceber que nem toda a gente que tem sintomas de hiperatividade ou inatenção tem PHDA.
O diagnóstico de PHDA pode estar presente quando existem vários sintomas ao longo da vida e que interferem de forma grave no funcionamento social, académico ou ocupacional da pessoa. Esta última parte é muito importante, visto que existem muitas pessoas com estes sintomas, mas que quer pelo seu estilo de vida ou pelos mecanismos que desenvolverem não sentem interferência destes sintomas no seu dia-a-dia.
Na nossa maneira de ver, a hiperatividade e a inatenção devem ser vistos como variantes do normal, sendo que em certos casos até podem ser úteis. No entanto, a partir do momento em que se tornam uma fonte de sofrimento ou incapacidade devem ser pensadas como sintomas de uma perturbação (a PHDA) que merece atenção médica.
A PHDA só existe nas crianças?
Nas décadas mais recentes, a ideia de que apenas crianças e adolescentes podem sofrer de PHDA foi abandonada. Sabe-se que pode existir um atraso no desenvolvimento do cérebro de jovens com PHDA, mas com o crescimento esses défices tornam-se pequenos ou desaparecem por completo. No entanto, vários estudos mostram que aproximadamente dois terços dos jovens com PHDA vão manter alguns sintomas na idade adulta (apesar de poderem não apresentar critérios suficientes para o diagnóstico formal). Assim, a quantidade estimada de pessoas com PHDA no mundo é de 5,3% em crianças e adolescentes e desce para 2.5% na população adulta.
A PHDA no adulto passa muitas vezes despercebida e poucas vezes é tratada. Dado que os sintomas estão presentes desde a infância é frequente existir uma história passada de insucesso académico/laboral, dificuldades nas relações com os outros ou um sentimento generalizado de potencial falhado que têm consequências negativas na saúde mental destes indivíduos. De facto, sabemos que existem taxas elevadas de depressão, ansiedade ou abuso de substâncias e percursos de vida mais desfavoráveis (com mais acidentes de carro, mais divórcios e mudanças de emprego mais frequentes) nesta população quando comparados com adultos sem PHDA.
Qual a causa da PHDA?

Em primeiro lugar, sabe-se que os fatores genéticos são responsáveis por 70 a 80% do risco de ter PHDA. Sabemos que pais e irmãos de pessoas com PHDA tem cinco a dez vezes maior risco de desenvolver PHDA que o resto da população.
Os fatores de risco ambientais são difíceis de identificar já que muitas vezes as causas ambientais podem ser consequência da própria PHDA ou de outros fatores. Por exemplo, crianças com PHDA, dado o seu comportamento habitual podem dar origem a maneiras de educar mais hostis que, por sua vez, parecem estar associados ao desenvolvimento de PHDA. Outros fatores de risco que podem estar associados a PHDA são fatores antes e durante a gravidez, como por exemplo o uso por parte da mãe de álcool ou tabaco durante a gravidez, baixo peso de nascimento, parto prematuro e exposição a pesticidas.
Qual o tratamento da PHDA?
A PHDA encontra-se envolvida em vários mitos e preconceitos. Numa primeira fase do tratamento, é fundamental que seja dada informação sobre o diagnóstico e o tratamento, bem como serem esclarecidas dúvidas que possam existir sobre o assunto. Visto ser uma perturbação crónica, é importante que exista um acordo entre o profissional de saúde e o utente sobre o plano de tratamento a seguir. As recomendações médicas habituais recomendam que o tratamento seja iniciado quando os sintomas de PHDA interfiram na vida da pessoa (por exemplo: trabalho, relações com amigos ou cônjuges, educação).
O tratamento inclui estratégias farmacológicas (medicamentos estimulantes e não-estimulantes), não-farmacológicas (terapia cognitivo-comportamental, neurofeedback) ou a combinação de ambas.
O tratamento farmacológico é considerada a forma de tratamento mais eficaz e, por isso, a primeira escolha no tratamento da PHDA. Os fármacos mais utilizados são os estimulantes – as anfetaminas (que ainda não estão aprovadas em Portugal) e o metilfenidato. Apesar do nome, é importante esclarecer que a medicação estimulante proporciona um efeito calmante nas pessoas com PHDA, ao contrário do que a própria palavra faz pensar. Além disso, o risco de dependência é muito baixo, principalmente se prescrito pelo médico assistente nas situações indicadas. Não existem, ao contrário do que popularmente se pensa, muitos efeitos negativos da toma desta medicação, quer a curto quer a longo prazo. Os efeitos secundários mais frequentes são: menos apetite, dores de cabeça, tremor e ansiedade. De qualquer maneira, deve se discutir com o médico assistente as várias opções farmacológicas.
Além do tratamento farmacológico, existem outras estratégias que têm mostrado bons resultados. Estas abordagens não farmacológicas incluem o treino comportamental e cognitivo (intervenções que permitem criar estratégias para controlar os sintomas), o neurofeedback (um tipo de terapia que se baseia na actividade cerebral registada em eletroencefalograma para se tentar treinar formas de controlar a função cerebral), programas de coaching, psicoterapias de 3ª geração (ex: Mindfulness) e modificações na dieta, sendo estas últimas um tema ainda controverso e a precisar de mais estudos científicos.
Mais informação em: www.spda.pt