“Passei-me, passei-me à grande…”

Chamo-me Ana, tenho 43 anos e aos 14 fui diagnosticada com o transtorno bipolar. Para dizer a verdade, foram muito raras as vezes em que senti o estigma da doença e, as poucas vezes que senti, tratei de ignorar qualquer discriminação – nunca me foi difícil fazê-lo.

Desde muito cedo que aceitei a doença mental como fazendo parte da minha vida, mas nunca lhe dei mais espaço do que me parecia merecer. Nunca fui uma doente mental, por definição, mas sim uma mulher com uma perturbação que, por vezes, é afectada na sua vida por uma condição mental que lhe é inerente – mas que, lá está – não é ela.

De oscilação em oscilação, uma mais severas que outras, os meus sintomas foram evoluindo e chegou-se ao diagnóstico de transtorno esquizoafectivo, a fundamentá-lo estiveram os meus surtos psicóticos de gravidade variada. Passei-me… passei-me à grande algumas vezes – misturei realidades com impressões distorcidas das mesmas.

Quando não estive psicótica e quando não estive deprimida (tive poucas depressões mas algumas profundas), ou seja a grande maior parte da minha vida, tive uma existência razoavelmente normal. Sou uma pessoa diferente, como todas as pessoas são. Tenho tanto de estranho, para dizer o mínimo, como de especial, para dizer o máximo.

Hoje em dia, depois de se ter chegado à que parece a combinação de químicos mais acertada, desde que comecei a praticar Meditação Transcendental, e que escolhi viver a vida com um fundo de maior felicidade, trocando a ansiedade de outros tempos por uma serenidade de quem está bem com o que tem, sinto-me estabilizada, sem manifestações psicóticas e sem grandes alterações no humor.