A parentalidade é o conjunto das funções e atividades desenvolvidas por um cuidador, com vista ao saudável e pleno desenvolvimento da criança a seu cargo. A definição de parentalidade não tem por base os laços de sangue, mas sim a relação afetiva e de cuidados estabelecida. Nesse sentido, nem sempre o(s) cuidador(es) da criança são os seus pais biológicos. É importante não esquecer que as famílias são muito distintas umas das outras, podendo as famílias ser monoparentais, alargadas, reconstruídas, homoparentais…sendo todos estes tipos de família válidos!
O que são estilos parentais?
Existem vários estilos parentais, ou seja, formas dos cuidadores se relacionarem com os seus filhos.
Uma forma de classificar os estilos parentais é através da forma de expressar a autoridade e do grau de afabilidade e de tolerância para com os filhos.
O estilo parental associado a menor risco de problemas de comportamento, de saúde mental e na relação familiar caracteriza-se por cuidadores exigentes (que estabelecem regras e limites, não permitindo comportamentos desadequados) e compreensivos, que encorajam a autonomia, ouvem as opiniões e explicam as consequências dos comportamentos. Dialogam, negoceiam e fazem compromissos com os filhos, despertando neles responsabilidade social e uma conduta independente e empreendedora. Quando existe incompreensão para com os filhos e ausência de autoridade dos cuidadores, podem surgir mais dificuldades e problemas familiares.
Existem alguns modelos de parentalidade que se baseiam na evidência científica atual, como a parentalidade positiva ou a parentalidade consciente, cujos princípios se baseiam no afeto, sem recurso à violência, ao autoritarismo ou à permissividade. Como tal, de seguida iremos abordar alguns temas pertinentes acerca da parentalidade.
Qual a diferença entre autoritarismo e autoridade?
O autoritarismo é a imposição de algo pela força, desrespeitando e ignorando as vontades e opiniões dos outros. As punições impostas geram nos filhos conformismo e uma postura submissa. Pelo contrário, a autoridade leva as pessoas a perceber e a respeitar normas e regras através do diálogo. Ouvem-se opiniões e dão-se explicações. Deve-se, assim, evitar o autoritarismo e utilizar autoridade nas práticas parentais.
Como estabelecer limites?
É importante que as regras estejam definidas e sejam claras. Que se comunique e que se utilize o reforço positivo na valorização da criança e dos seus bons comportamentos.Que a criança saiba quais as consequências dos seus comportamentos, ou seja, que haja coerência e previsibilidade na resposta aos comportamentos da criança. Nesse sentido, as consequências perante um dado comportamento já devem estar pré-definidas, de forma a não variarem consoante o dia, a disposição dos cuidadores, a postura da criança….
“Mas eu educo os meus filhos de forma igual e não resulta!”
É importante não esquecer que os filhos são diferentes uns dos outros e, como tal, a forma como a parentalidade é exercida não deve ser igual para todos, mas sim ter em conta a sua individualidade.
Cada filho é único e as suas características e necessidades vão-se alterando ao longo do seu crescimento, sendo importante ter em conta em que etapa se encontra (infância, juventude, maturidade…). Cada família também se vai alterando ao longo do tempo, passando por uma sequência de transformações na organização familiar. Nesse sentido, o que resulta para uma família, num dado momento, pode não resultar noutra fase da sua vida familiar.
É importante, ainda,ter em conta que os filhos não são só filhos! São netos, irmãos, amigos, estudantes…ou seja, todos os indivíduos têm várias dimensões e papéis, que se interligam. Quando ocorre um problema em algum destes papéis, frequentemente, este mal-estar influencia as outras dimensões, podendo manifestar-se, por exemplo, no seu comportamento e na forma como respeitam as regras impostas.
Os cuidadores também não são só cuidadores! Quem eu sou enquanto cuidador está relacionado com a minha própria história de vida e com a forma como fui educado. É frequente a repetição de padrões ou, pelo contrário, uma tentativa de educar de forma contrária à que fui educado. É importante, enquanto cuidadores, refletirmos sobre a nossa própria história e sobre esses padrões, de forma a percebermos o impacto que tem nas nossas ações e reações enquanto pais.
A parentalidade deve ser coerente, ao longo do tempo e, idealmente, no casal parental. Para essa coerência acontecer é fundamental que exista comunicação, com o filho e entre o casal parental. Se eu enquanto filho tiver o mesmo comportamento em dois dias diferentes e as consequências do mesmo são diferentes, isso confunde-me e transmite-me ambiguidade. Ao não perceber as consequências do meu comportamento, não percebo os limites, o que me leva a testá-los.
A parentalidade não é uma prática linear, exigindo flexibilidade e bom senso. Cada família é única, não existindo fórmulas que resultem para todas as famílias. É preciso ter consciência das características da criança (idade, desenvolvimento, características pessoais, etc.) e ter em consideração a dinâmica familiar, a fase da vida familiar e a fase de vida de cada pessoa. Por vezes são necessárias várias tentativas e erros para se perceber o que resulta melhor, sendo um processo de aprendizagem e melhoria contínuos.