Medicação

O nosso cérebro é composto por biliões de neurónios. Os neurónios são células que comunicam entre si, criando circuitos e redes neuronais implicados no processamento da informação cerebral. A comunicação entre os neurónios é feita através de substâncias químicas, chamadas de neurotransmissores. Cada neurotransmissor desempenha um papel específico na regulação das nossas emoções, cognições e comportamentos.

Os medicamentos utilizados no tratamento das doenças mentais são substâncias que tem a capacidade de atuar no nosso cérebro, atenuando ou eliminando os sintomas provocados pelas doenças mentais. Os medicamentos podem mudar a maneira como nos sentimos, mas não mudam a nossa maneira de ser!

Para algumas pessoas, a medicação é uma solução de curto prazo que permite ultrapassar um período de crise. Para outras, nomeadamente pessoas com doença mental crónica, pode ser necessário manter a medicação por mais tempo, como acontece noutras doenças crónicas como a hipertensão ou diabetes. O tratamento pretende garantir uma vida com qualidade e saúde, evitando recaídas da doença e hospitalizações.

A escolha da medicação mais indicada para cada pessoa tem em conta diversos aspetos:

– os sintomas e o diagnóstico;

– medicamentos já utilizados previamente;

– doenças médicas conhecidas;

– a preferência da pessoa.

A decisão relativa ao tratamento deve ser informada e partilhada entre si e o seu médico, de forma a que tenha um papel mais ativo na sua saúde.  Questione quais os benefícios e efeitos adversos da medicação prescrita, alternativas terapêuticas, duração do tratamento ou quaisquer outras dúvidas que possam surgir. Pode ainda solicitar que um familiar, amigo ou cuidador participe na decisão. Uma pessoa informada toma melhores decisões quanto à sua saúde!

Por vezes, pode ser necessário recorrer a diferentes medicamentos antes de encontrar aquele que traz maior benefício para a pessoa. São vários os fatores que podem contribuir para diferentes respostas a uma mesma medicação, como por exemplo o metabolismo e a atividade física de cada um.

Estudos demonstram que a medicação é habitualmente mais eficaz se integrada num programa individual de tratamento, que pode incluir psicoterapia, terapia ocupacional, unidade de reabilitação, entre outros. Discuta as diferentes opções com o seu médico.

Que tipos de psicofármacos existem?

Existem vários tipo de medicamentos utilizados para o tratamento das doenças mentais.

De seguida iremos abordar aqueles mais frequentemente utilizados:

– Antidepressivos

– Antipsicóticos

– Estabilizadores de humor

– Ansiolíticos e hipnóticos

Antidepressivos

Os antidepressivos são medicamentos aprovados para tratar diversas doenças como a depressão, a ansiedade e as perturbações obsessivo-compulsiva e do comportamento alimentar. 

Os antidepressivos aumentam ou prolongam a atividade de neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina, substâncias que se pensa estarem envolvidas na regulação do humor.

A maioria dos antidepressivos demora 3-4 semanas a ter algum benefício, embora algumas pessoas possam senti-lo antes disso. Naturalmente, as pessoas desejam sentir os efeitos da medicação de imediato, mas os antidepressivos não funcionam assim. É fundamental aguardar e ter persistência durante o início do tratamento. Em caso de dúvida, fale com o seu médico.

Dependência?

Os antidepressivos não provocam dependência, no entanto pode ser necessário iniciar ou descontinuar o tratamento de forma lenta e progressiva, de modo a evitar o surgimento de sintomas indesejáveis.

Antipsicóticos

Os antipsicóticos, tal como o nome sugere, são medicamentos utilizados no tratamento de sintomas psicóticos. Estes sintomas podem estar presentes num grande número de doenças, tais como a Esquizofrenia, a Perturbação Bipolar, a Depressão, a Demência, entre outros. Estes medicamentos são também eficazes no controlo da agitação, da desorganização do comportamento, da impulsividade e da agressividade.

De acordo com a necessidade da cada pessoa, os antipsicóticos podem ser tomados oralmente ou sob a forma de medicação injetável. A formulação oral, existe em comprimido e em líquido, e o seu efeito é atingido após algumas horas. A formulação injetável pode ser administrada numa situação de emergência, em que se procura um efeito imediato, ou como medicação de longa duração.

A medicação injetável de longa duração é útil para pessoas que preferem esta formulação ou pessoas que têm dificuldade na toma de comprimidos, ou por esquecimento, ou por não reconhecimento da necessidade da toma dos mesmos. Nestes casos, após a injeção, o medicamento é libertado na corrente sanguínea, de uma forma estável e constante, durante um tempo variável que pode ir até 12 semanas. Dessa forma, evitam-se grandes oscilações da substância no organismo.

Estabilizadores do Humor

Os estabilizadores do humor são medicamentos que ajudam na regulação do humor, ou seja, do estado de ânimo da pessoa. Permitem controlar as oscilações extremas de humor, como as que ocorrem nas pessoas com Perturbação Bipolar.

As mudanças de humor fazem parte das nossas vivências e todos as sentimos, no entanto, quando são extremas, podem interferir com o nosso funcionamento diário, razão pela qual são consideradas prejudiciais e são alvo de tratamento. São exemplo os episódios de intensa depressão ou de extrema euforia.

O grupo dos estabilizadores do humor incluem:

– Lítio, um medicamento extraído a partir de um mineral encontrado na natureza

– Ácido valpróico, lamotrigina e carbamazepina, também chamados antiepiléticos por terem efeito no controlo da epilepsia, além do efeito de estabilização do humor.

Consulte o folheto informativo sobre o Lítio.

Consulte o folheto informativo sobre o Valproato de Sódio.

Benzodiazepinas e Hipnóticos

As Benzodiazepinas e Hipnóticos, também conhecidos como “calmantes” são medicamentos utilizados em situações pontuais de ansiedade ou de dificuldade em dormir. Apesar de proporcionarem um alívio imediato, não são dirigidos à causa do sintoma. Estes medicamentos estão associados a um risco importante de dependência, pelo que devem ser utilizados apenas por um curto período de tempo. Quando tomados de forma regular vão perdendo o seu efeito, havendo necessidade de aumento da dosagem. São também conhecidos efeitos secundários importantes quando tomadas em altas doses durante muito tempo, como os défices de memória.

Consulte o folheto informativo sobre Benzodiazepinas e Hipnóticos.

Efeitos Adversos

Os psicofármacos, tal como os medicamentos utilizados noutras áreas da medicina,

podem provocar efeitos adversos, além dos efeitos benéficos já descritos.

Para cada medicamento existem alguns efeitos adversos esperados e comuns e outros que dependem da reação individual de cada pessoa. Podem variar de ligeiros, desaparecendo com a continuação da medicação ou com um ajuste no horário da toma, a graves, em que se torna imperativo a interrupção dos mesmos. Em qualquer das situações deverá informar o médico assistente.

O benefício sentido com alguns psicofármacos pode surgir mais tardiamente do que os efeitos indesejáveis, o que pode dificultar a adesão à medicação. Para cada situação devem ser pesados os riscos e benefícios, decisão que deve compartilhar com o seu médico.

O que devo fazer se sentir efeitos adversos?

De acordo com a gravidade do sintoma pode:

-esperar alguns dias, especialmente se iniciou um medicamento novo;

-reportar ao médico assistente ou médico de família;

-dirigir-se ao serviço de urgência em situações de maior gravidade e necessidade de observação emergente.