Jogo

Desde a antiguidade que o jogo existe como atividade recreativa, de caracter lúdico e que visa o prazer, em diferentes culturas e sociedades.

No jogo recreativo e responsável, os jogadores controlam a sua participação, o tempo e o dinheiro que utilizam, sendo capazes de terminar esta atividade a qualquer momento que desejem.

O que é a Perturbação do Jogo?

A Perturbação do Jogo surge quando há um comportamento problemático, recorrente e persistente em jogar. Surgem problemas económicos e interferência significativa no funcionamento do dia-a-dia, a nível pessoal, social e ocupacional, com sofrimento, prejuízo e consequências negativas. Muitas vezes o próprio tem dificuldade em reconhecer a perda de controlo, sendo a família e amigos os primeiros a detetar os sinais de alerta.

A Perturbação do Jogo é mais frequente em jovens do sexo masculino, apesar da prevalência nas mulheres parecer estar a aumentar. Existe uma relação direta entre jogos a dinheiro e uso de substâncias (incluindo o álcool). Também é mais prevalente nas pessoas com familiares com problemas de jogo e uso nocivo de substâncias psicoativas.

O que é o craving, tolerância e sintomas de abstinência?

Craving: é uma necessidade ou desejo urgente e intenso por uma substância/comportamento (ansiedade por jogar)

Abstinência: é uma reação psicológica e fisiológica que ocorre à interrupção abrupta de uma substância/comportamento produtora de dependência (irritabilidade quando impedido de jogar)

Tolerância: ocorre com a repetição de um comportamento (perturbação do jogo) ou consumo de substância, que progressivamente diminui o efeito pretendido de satisfação, observando-se um aumento do tempo despendido na atividade ou da dose de substância, para obter o mesmo grau de gratificação. (aumento da aposta ou do tempo a jogar)

Comportamentos relacionados com o jogo patológico

  • Necessidade de jogar com quantias de dinheiro crescente, para obter o mesmo grau de satisfação/ excitação/estimulação/prazer
  • Inquietação ou irritabilidade quando tenta reduzir ou parar de jogar
  • Esforços mal sucedidos e repetidos em controlar, diminuir ou abandonar o hábito do jogo
  • Pensamentos e preocupação frequente com o jogo
  • Jogar com maior frequência quando se sente angustiado (sentimento de desespero, culpabilidade, ansiedade e depressão)
  • Jogar para recuperar perdas monetárias “resgate das próprias perdas no dia seguinte”
  • Mentir para ocultar a extensão do seu envolvimento com o jogo
  • Prejudicar ou perder relações significativas, emprego, oportunidades carreira/académicas
  • Depende de terceiros para obter dinheiro para aliviar a situação financeira causadas pelo jogo

Exemplos  de jogos frequentes

  • Jogos de casino
  • Póquer, black jack, roleta
  • Slot machines
  • Apostas desportivas
  • Jogos de dados
  • Lotarias e raspadinhas

O que é que se sabe sobre o desenvolvimento do jogo patológico?

Há vários fatores que podem fazer alguém jogar “sem conseguir parar, mesmo quando está a perder”. Existe uma relação entre a vulnerabilidade individual, do ambiente e neurobiológica (relacionada com a maneira como o cérebro funciona).

Alguns modelos psicológicos sugerem que a capacidade de autocontrolo pode ser um dos fatores em causa na transição entre um comportamento normal para um comportamento problemático com o jogo.

A capacidade de controlarmos o nosso comportamento parece ser influenciada pela frequência e persistência com que se joga: “quanto mais jogo, mais perco o controlo” e “quanto mais perco o controlo, mais jogo”.

– Vulnerabilidades individuais:

Os afetos negativos, de tristeza, irritabilidade e ansiedade, estão associados a maior persistência em jogar, mesmo quando se está a perder. Assim torna-se compreensível, que um fraco suporte social (familiar ou conjugal) ou estratégias de coping (capacidade individual de resolver problemas) mal adaptativas, possam influenciar negativamente e perpetuar estes comportamentos.

Alguns traços da personalidade, como a impulsividade; o consumo de álcool ou outros estimulantes, podem não só precipitar o comportamento de jogar como a sua persistência.

– Vulnerabilidade do ambiente:

Iniciar o jogo em idades mais jovens  ou ter acesso ao jogo, como ter amigos e/ou familiares próximos que jogam, aumenta o risco de desenvolver um comportamento problemático.

Como é que estes comportamentos se desenvolvem?

Inicialmente existe um grande prazer e satisfação no jogo. Se este comportamento for repetido com frequência, pode evoluir para um hábito (independente da vontade e das consequências), ou um ato compulsivo (ações inapropriadas que persistem, com consequências indesejáveis e difíceis de interromper).

O jogador, impulsionado pelo desejo em reduzir os sintomas de abstinência, persiste em jogar, havendo uma diminuição progressiva do prazer e gratificação, exigindo doses crescentes (de apostas ou dinheiro em jogo) para obter os mesmos efeitos de gratificação.

O jogador tem um conjunto de crenças erróneas ou pensamentos enviesados, que propiciam a manutenção do seu comportamento de jogo, apesar das perdas significativas. Avaliam mal as probabilidades das suas apostas e o significado dos resultados. Por exemplo: acreditam que as probabilidades em ganhar são superiores às probabilidades das variáveis aleatórias ou “quando ganham, é indicador de boa sorte”.

Por outro lado, o jogo pode persistir na expetativa de recuperar as perdas. Chasing, é expresso em relatos como “perdi as últimas vezes, hoje devo dar a volta”. O jogador pode criar superstições ou usar amuletos e rituais de sorte, para “continuar a ganhar”.

Os episódios em que realmente ganham no jogo, parecem importantes em potenciar estas crenças/ideias, chamadas de “ilusões de controlo”, validando os pensamentos de superstição e rituais, que perpetuam o envolvimento com o jogo.

Perturbação do jogo e outras Perturbações mentais

É frequente os jogadores apresentarem simultaneamente outras perturbações psiquiátricas, como a Depressão, Ansiedade, Perturbação do défice de atenção e hiperatividade, uso nocivo álcool/substâncias psicoativas, entre outras.

Existe tratamento?

O tratamento principal é a psicoterapia. Na Perturbação de Jogo as que têm apresentado melhores resultados são:

1- Terapia cognitivo-comportamental, que ajuda a pessoa a:

– Identificar as crenças/pensamentos erróneos que mantém e reforçam a vontade em jogar

– Reconstruir estes pensamentos por alternativas mais realistas e objetivas

– Identificar as situações de risco

– Ajudar nas futuras recaídas

2- Terapias familiares, envolvendo toda a família no suporte e recuperação.

3- Terapias de grupo, como os jogadores anónimos, em que a pessoa pode partilhar as suas experiências e dificuldades com antigos jogadores.

O tratamento farmacológico está pouco estudado, sendo reservado para quando estão presentes outras perturbações psiquiátricas, como a Depressão ou a Ansiedade.

Como pedir ajuda?

No Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL), há uma consulta especificamente para este tipo de problemas relacionados com jogo.

Existam também outras entidades disponíveis onde pode pedir ajuda, tais como:

Jogo Responsável

http://www.jogoresponsavel.pt/

Contato : 968 230 998

Instituto de Apoio ao Jogador (IAJ)  

http://www.iaj.pt/

Contato : 968 230 998962 641 161

Jogadores Anónimos

Grupo de Inter-Ajuda, Programa dos 12 passos de recuperação.

Jogo Compulsivo

http://www.jogadoresanonimos.com.pt/