Demência

O que é?

Entende-se por demência o declínio de uma ou várias funções cognitivas, como a memória, a atenção, a linguagem ou a execução e planeamento de tarefas, em grau suficiente para perturbar o normal funcionamento do indivíduo nas suas atividades diárias.

Embora muito variável na apresentação clínica, a primeira queixa referida por parte dos doentes ou familiares é frequentemente o esquecimento. Contudo, manifestações psiquiátricas como alterações na personalidade, sintomas psicóticos, alterações do humor, do comportamento, do sono e do apetite, também são frequentes e podem ser a primeira manifestação da doença. Embora existam exceções, o curso natural da demência é habitualmente progressivo e irreversível, constituindo uma das principais causas de incapacidade e uma fonte de sobrecarga importante para os cuidadores e serviços de saúde.

A idade é o principal fator de risco para o desenvolvimento de demência, pelo que a prevalência mundial desta condição tem vindo a aumentar, acompanhando o aumento da esperança média de vida da população.

Existem outros fatores de risco para o desenvolvimento de demência como a diabetes, hipertensão, hipercolesterolémia, sedentarismo, obesidade e tabagismo, sendo de extrema importância a manutenção de um estilo de vida saudável para atrasar o início de um eventual processo demencial.

Como distinguir a perda de memória normal da demência?

O envelhecimento é um processo contínuo. A partir da 2ª década de vida, verifica-se uma lenta perda de capacidades cognitivas, sendo uma das marcas do envelhecimento normal a redução na velocidade do processamento mental.

Por declínio da memória associada à idade entende-se um ligeiro compromisso desta função, em pessoas com idade ≥ 50 anos por comparação a indivíduos jovens. Por norma, na demência existem alterações na memória mais acentuadas do que seria expectável para a idade da pessoa.

Se tiver alterações de memória a que médico me devo dirigir?

Se tiver queixas de memória deverá dirigir-se ao seu médico de família, fazendo-se acompanhar por familiar ou outra pessoa próxima. É feita uma avaliação pelo médico, que recolhe informações das diferentes pessoas e, caso haja indicação, é feito encaminhamento para consulta de especialidade.

O diagnóstico de Demência deverá ser realizado em consulta de Psiquiatria ou Neurologia. O reconhecimento precoce desta patologia é de extrema importância, pois possibilita à pessoa com demência e aos seus cuidadores uma melhor organização e planeamento na tomada de decisões com respeito ao futuro. Possibilita igualmente o início mais precoce do tratamento, eficaz no alívio de sintomas e na preservação de capacidades.

Como se diagnostica?

Não existe um exame específico para diagnosticar demência. O diagnóstico é feito integrando diversas fontes de informação:

     • História clínica completa, recolhendo dados fornecidos pelo doente e por um familiar próximo ou cuidador

     • Exame físico e neurológico

     • Avaliação neuropsicológica, em que são avaliados diversos aspetos cognitivos, tais como a memória ou a atenção

     • Exames complementares de diagnóstico, como análises ao sangue e exames de imagem ao cérebro (tomografia computadorizada ou ressonância magnética)

Assim o médico pode excluir outras doenças que cursem com alterações semelhantes às que se verificam nas pessoas com Demência.

Quais os tipos de Demência?

São conhecidos vários tipos de demência além da Doença de Alzheimer, o tipo mais frequente. Caso queira saber mais informações sobre cada uma destas doenças, clique sobre o nome de cada uma.

Como é feito o tratamento?

A demência não tem cura, mas existe tratamento que permite atrasar a natural evolução da doença. O tratamento da demência combina medicação e outras estratégias não farmacológicas. Ambas são importantes e complementares na sua intervenção.

O tratamento não farmacológico, inclui a estimulação cognitiva da pessoa com demência, por exemplo através de jogos ou atividades que permitam a interação social com outros. É também fundamental que sejam respeitadas rotinas e horários. Deve existir exposição a luz solar durante o dia e escuridão durante a noite, bem como contacto com elementos que facilitem a orientação da pessoa, como por exemplo calendários ou relógios, devendo o ambiente ser calmo e relaxante.

A medicação antidemencial existe sob a forma de comprimidos ou pensos transdérmicos, devendo a sua escolha ser feita em conjunto com o médico assistente. Estes medicamentos atuam a nível de substâncias existentes no cérebro, que se encontram alteradas na demência.

São também utilizadas outras medicações para tratar alterações do sono, do humor ou do comportamento que se podem verificar nestas pessoas.

Como cuidar da pessoa com Demência?

Segundo o “Manual do Cuidador” (link abaixo) da Associação Portuguesa dos Familiares e Amigos dos Doentes com Alzheimer “perspetiva-se nos próximos anos um crescimento significativo de dependentes e, ao nível das políticas sociais e de saúde, uma crescente corresponsabilização da família na prestação dos cuidados. Diversos estudos referem a exaustão física e mental que atinge uma parte significativa de cuidadores informais, tornando pertinente e prioritário refletir sobre o cuidador e sobre os apoios ao mesmo.”

Sendo o apoio do cuidador absolutamente fundamental no bem-estar do doente, é imprescindível que os cuidadores estejam informados acerca das implicações da doença. Deixamos-lhe aqui algumas estratégias para lidar com a pessoa com demência:

  • Informe-se – procure obter o máximo de informação possível, de forma a manter uma atitude positiva, mas realista. Deste modo, pode preparar-se da forma mais adequada para os vários desafios que vão surgir inevitavelmente e melhorar os cuidados que pode oferecer. Todos os domínios da vida do doente podem ficam afetados, necessitando de um cuidador para o apoiar de várias formas.
  • Seja realista – tente ir ajustando aquilo que considera sucessos ou pequenas vitórias à medida que a doença progride. Sucesso é certificar-se que a pessoa de quem cuida se encontra confortável, feliz e se sente segura. As pessoas com demência têm dias bons e dias maus, faz parte do curso natural da doença. Por isso, tente aproveitar ao máximo os momentos bons à medida que estes surgem, sem os forçar. No entanto, não deixe de ser realista e recorde-se que a maior parte dos tipos de demência, incluindo a Doença de Alzheimer, são progressivos e irreversíveis – ou seja, tendem a piorar ao longo do tempo e para já não existe uma cura.
  • Empatize – por vezes as pessoas com demência ficam confusas, sem saber onde estão, em que época vivem ou em quem são. Tente imaginar como se sentiria nesta situação e como gostaria de ser tratado.
  • Seja criativo – procure manter o doente ativo: faça exercícios para estimular a memória, tais como mostrar fotografias de familiares e amigos, e valide as suas recordações. Deve também ter em atenção a criação de um ambiente tranquilo, seguro, confortável e que forneça privacidade, nomeadamente para as tarefas de higiene e vestir.
  • Conheça os seus limites e aceite ajuda – quer esteja a cuidar de um familiar ou trabalhe como cuidador numa instituição, não tenha medo de pedir ajuda. Todos os cuidadores são diferentes e são afetados de maneiras diferentes. Podem haver dias nos quais acha que é perfeitamente capaz de assumir todas as tarefas e outros nos quais sente precisamente o contrário. Algumas tarefas serão mais simples para si e outras mais difíceis, sendo que isto pode mudar de dia para dia. Vários cuidadores consideram os grupos de apoio uma grande ajuda: é uma oportunidade para partilharem experiências com pessoas que passam por situações semelhantes. É também um espaço útil para a troca de dicas e ideias entre cuidadores sobre como lidar com os seus familiares com demência, bem como um meio de divulgação sobre outros recursos locais. Em Portugal dispomos do «Café Memória», de participação gratuita e sem inscrição prévia (consulte informação nas ligações úteis)
  • Faça uma pausa – vai ser mais fácil lidar com a situação em que se encontra se estiver alguns períodos de tempo afastado da pessoa de quem é cuidador e tirar algum tempo para si. Tente encontrar tempo para refletir e relaxar, fazer coisas das quais gosta e estar com os seus amigos e família.
  • Planeie o futuro – tendo em conta a progressão inevitável da doença, os cuidadores devem preparar-se para o momento em que o seu familiar pode necessitar de ajuda profissional num ambiente institucional. Isto envolve uma preparação atempada, não só a nível financeiro, como da apreciação das várias opções disponíveis na sua área.

https://alzheimerportugal.org/public/files/manual_do_cuidador.pdf

“Tenho um familiar com demência. Também posso ter?”

Esta é uma preocupação frequente dos familiares das pessoas com demência. De facto, há várias doenças que são influenciadas pelo património genético. Em muitos casos, a existência de história familiar não irá garantir o aparecimento de uma doença em particular, no entanto o risco individual pode aumentar com base em fatores ambientais e no estilo de vida de cada um. No caso da doença de Alzheimer, o fator de risco mais importante é a idade (afeta 1 em cada 4 pessoas acima dos 85 anos). Ou seja, por ser uma doença tão frequente em pessoas com mais de 70 anos, ter um familiar ou avô com Alzheimer nesta idade não implica necessariamente que se venha a ter a doença. No entanto, se alguém desenvolveu doença de Alzheimer numa idade mais jovem (por exemplo, antes dos 60 anos), existe a hipótese de estarmos perante um tipo raro de doença de Alzheimer que é transmitida geneticamente. Embora o património genético e a idade não sejam fatores de risco possíveis de alterar, há outros que o são, nomeadamente:

  • Estilo de vida: sabe-se que indivíduos com um estilo de vida saudável têm uma menor probabilidade de desenvolver demência. Isto inclui a prática de exercício físico de forma regular, a adoção de uma dieta equilibrada, manter um peso adequado, não fumar e evitar o consumo de bebidas alcoólicas. Para além disto, manter-se ativo mentalmente, quer a nível profissional quer a nível social, ajuda a prevenir a demência.
  • Problemas de saúde: há várias doenças que aumentam o risco de alguém vir a desenvolver Doença de Alzheimer e demência vascular. Assim sendo, é importante mantê-las sob um controlo eficaz o mais precocemente possível. Estas patologias incluem diabetes, obesidade, colesterol elevado, hipertensão arterial, patologia cardíaca e depressão.