O QUE É?
Também chamado de “Adição Sexual”, refere-se a uma perda de controlo dos pensamentos, impulsos ou comportamentos sexuais “não conseguir parar” e a uma manutenção desses atos apesar das consequências negativas e do sofrimento que daí advém.
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS?
O foco central da vida da pessoa passa a ser a atividade sexual (pensamentos, fantasias, comportamentos), negligenciando outras áreas importantes e perdendo a capacidade de controlar (restringir) o comportamento sexual, mesmo perante o surgimento de problemas ou não obtendo satisfação / prazer.
Algumas consequências comuns são: problemas na relação conjugal, risco aumentado de contrair infeções sexualmente transmissíveis, problemas financeiros e legais, e com o tempo um declínio geral do funcionamento da pessoa.
A perda de controlo está frequentemente associada a sentimentos de culpa e vergonha, o que muitas vezes interfere no pedido de ajuda especializada.
A disfunção sexual pode aparecer como resultado do comportamento sexual compulsivo (repetitivo), por exemplo pelo uso problemático de pornografia. O desejo crescente por uma excitação pode levar à busca de algum conteúdo dito desviante, com sofrimento associado (por exemplo, sadomasoquista, pedofílico, zoofílico) ou até mesmo a infrações legais.
É UM PROBLEMA COMUM?
Sim, estima-se que afete 3-6% da população mundial, sendo mais prevalente nos homens, num rácio homens-mulheres de 4:1.
Desde a antiguidade que há relatos de comportamentos sexuais compulsivos, de “ninfomaníacas” e “donjuans”, mas só mais recentemente foi encarado como uma questão passível de ajuda especializada, ao invés de reprovação moral.
QUAIS SÃO AS CARATERÍSTICAS QUE DEFINEM O COMPORTAMENTO SEUXAL COMPULSIVO?
Ao contrário do que se possa pensar uma pessoa não precisa se envolver em sexo “extremo” ou “estranho” para o seu comportamento ser considerado problemático.
Alguns pontos-chave são:
- Perda de controlo nos impulsos ou necessidades sexuais que são intensas e repetitivas, resultando num comportamento sexual compulsivo;
- As necessidades sexuais tornam-se o foco central da vida da pessoa, em detrimento de outros interesses, atividades e responsabilidades;
- A necessidade constante de sexo costuma ser intercalada com sentimentos de arrependimento, culpa ou vergonha;
- Tentativas falhadas de reduzir o comportamento sexual compulsivo;
- Manutenção do comportamento sexual compulsivo apesar das consequências adversas ou mesmo sem nenhuma ou quase nenhuma satisfação associada;
- Sofrimento marcado ou prejuízo significativo na vida pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou em outras áreas importantes de funcionamento
O QUE CAUSA O COMPORTAMENTO SEXUAL COMPULSIVO?
Não há uma explicação única, mas sim várias teorias resultantes de extensa investigação na área.
A nível da biologia parece existir uma reatividade aumentada a estímulos sexuais, a par de um impulso aumentado para obter o prazer (sexual). As alterações encontradas nos circuitos cerebrais assemelham-se às alterações que são observadas em pessoas com dependência de substâncias e jogo patológico, parecendo existir mecanismos comuns.
A psicologia sugere que o comportamento sexual, como atividade prazerosa e gratificante, possa ser usado como forma de lidar com emoções negativas, como a tristeza e a ansiedade. Esta aprendizagem pode originar a perda de controlo que está na origem do comportamento compulsivo.
De facto, é frequente a coocorrência com outros problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e dependência de substâncias.
Embora a maioria das pessoas com depressão e ansiedade não tratadas apresentem uma diminuição da libido e do desejo sexual, algumas pessoas podem notar aumento do apetite sexual. Este aumento pode ser explicado por uma necessidade de contacto físico com o outro, valorização e aumento da autoestima, uma forma de distração, um escape ou uma maneira de libertar tensão.
O consumo de psicoestimulantes, como a cocaína e anfetaminas, podem aumentar o desejo e o impulso sexual. Quando consumidas em conjunto com o álcool, que diminui o controlo sobre o comportamento sexual provocando a desinibição, podem predispor a comportamentos sexuais abusivos para com terceiros.
O comportamento sexual compulsivo também pode ser secundário a outras condições médicas, como lesões cerebrais de áreas específicas que regulam o impulso sexual, (lobos frontais do cérebro); demências, epilepsia, síndrome de Tourette, entre outras.
Por último, é importante destacar que o ambiente social em que a pessoa está inserida também desempenha um papel muito importante. O sentimento de perda de controlo sobre o comportamento sexual é uma experiência individual e subjetiva que se deve, em grande parte às crenças de cada um, às consequências percebidas e também às normas e expetativas culturais.
QUAIS SÃO OS COMPORTAMENTOS SEXUAIS COMPULSIVOS MAIS COMUNS?
A utilização problemática de pornografia e a masturbação compulsiva são os comportamentos mais comuns e estão muitas vezes associados.
Segundo os dados do relatório anual de um dos maiores distribuidores online de pornografia, a média estimada de utilizadores diários é de 92 milhões. A maioria das pessoas que recorre à pornografia não relata problemas associados. No entanto, uma minoria reporta uma vontade intensa, repetitiva e dificuldade em resistir, associada a sensação de perda de controlo, tornando a sua utilização problemática.
A masturbação pode tornar-se alvo de atenção quando:
- Ocupa uma grande parte do tempo, em detrimento de atividades de lazer, sociais ou profissionais
- Acontece em locais que considera inapropriados
- Pratica mesmo sem ter vontade ou sem sentir excitação
- Sente culpa, vergonha ou zanga, durante ou após a masturbação
- Se masturba para lidar com emoções negativas (tristeza, ansiedade, raiva)
Outros exemplos de comportamentos sexuais compulsivos incluem contactos sexuais impulsivos com parceiros casuais ou recurso a profissionais do sexo, cibersexo, sexting, entre outros. Não sendo o primeiro, muitas vezes os danos provocados na relação, a “descoberta” do parceiro, pode ser um primeiro passo para a abordagem do problema.
TRATAMENTO
Psicoterapia
É frequentemente o tratamento de primeira linha e tem como objetivos: (1) melhorar as capacidades de regulação emocional e comportamental, ou seja, fomentar a capacidade de lidar com emoções negativas de uma forma mais positiva e que traga bem-estar, (2) recuperar o controlo sobre o comportamento sexual (relações sexuais, masturbação e erotismo), e (3) diminuir a probabilidade e frequência de comportamentos sexuais de risco.
Numa primeira fase da terapia pode ser pedido à pessoa uma abstinência sexual total, com introdução gradual de elementos sexuais. O objetivo é permitir-se voltar a ter o controlo e conectar a atividade sexual com o envolvimento emocional e a aceitação, de acordo com os valores pessoais de cada um, e voltar a ter prazer sem sentimentos de culpa ou vergonha associados.
A terapia de casal pode também ter indicação quando há conflitos decorrentes do comportamento sexual compulsivo.
Medicação
Embora não haja um medicamento especificamente indicado para esta condição, nalguns casos pode ser um complemento importante da psicoterapia. Os fármacos mais utilizados são os inibidores seletivos da recaptação da serotonina, uma classe de antidepressivos usada também no tratamento da ansiedade, ataques de pânico, obsessões, depressão, e outras patologias e tratamento das dependências de substâncias. Esses quadros também podem estar associados e devem ser igualmente abordados.
Em casos de maior gravidade, na incapacidade de inibir o comportamento compulsivo, nas ofensas sexuais, pode recorrer-se a anti-androgénios, que diminuem o desejo sexual.
Se o comportamento sexual compulsivo for secundário a outras condições médicas, estas serão alvo de atenção primária.
COMO PEDIR AJUDA?
As pessoas com comportamento sexual compulsivo sofrem dos preconceitos comuns à sua cultura e ambiente social. Como tal, podem encarar os seus comportamentos como gananciosos e irresponsáveis, sentindo culpa e vergonha. Esses sentimentos não só podem reforçar a manutenção do comportamento problemático como impedir a procura de ajuda.
Se tem pensamentos sexuais recorrentes e atividades sexuais compulsivas que interferem no seu dia-a-dia, bem como dificuldade em controlar estes pensamentos e impulsos, levando a problemas e a sofrimento, saiba que existe ajuda especializada.