Chamo-me Henrique e tenho tido acompanhamento psiquiátrico desde o final de uma adolescência complicada, em que a depressão tomou conta de mim. Eu que até então era bom aluno e atleta, após a morte de um irmão e alguns romances mal sucedidos, entrei numa espiral que me levou nomeadamente a uma tentativa de suicídio.
Com o passar do tempo acabei por restabelecer-me e consegui reencontrar a felicidade e o sentido de vida, retomando com sucesso o percurso escolar e profissional, já que tive o apoio da minha família e amigos, além do acompanhamento em consultas privadas de psiquiatria.
No entanto, na sequência de nova fase atribulada da minha vida, devida a complicações profissionais e a um negócio mal sucedido, acabei por perder de novo a estabilidade, e fui internado contra vontade no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, devido a toda a instabilidade emocional em que me encontrava.
Aqui o acolhimento que recebi da parte de médicos, técnicos e outros utentes, humano e atento, fez-me repensar comportamentos e atitudes menos positivas para mim e para os que me rodeiam.
Estive depois no Hospital de Dia dessa unidade hospitalar, onde firmei amizades profundas, nomeadamente com outros utentes, cada um com o seu historial particular, partilhando um abraço quando necessário e um sorriso sempre que possível.
Entretanto a minha mãe passou a participar com outros pais em reuniões organizadas por esta unidade, e a nossa relação ficou mais sólida desde então. Creio que o ambiente geral aqui em casa registou com tudo isto melhorias significativas.
Também a minha relação com a medicação e o descanso foram muito alterados durante este período, em que passei a aceitá-los como uma necessidade e não uma imposição que fosse desprezável. Antes pelo contrário, as injeções que passei a tomar de três em três semanas revelaram-se como uma mais valia para a minha estabilidade emocional, uma vez que anteriormente era muito irregular nas tomas diárias, o que além de me descompensar, originava também conflitos familiares, já que me obrigavam a tomar medicação contra a minha vontade.
É certo que a medicação também apresenta os seus contras (tendo pessoalmente registado aumento de peso e mais sonolência do que sem a medicação), mas quando confrontados com os aspectos positivos, posso com toda a certeza afirmar que me encontro mais encontrado e menos disperso que antes, melhor por dentro e também por fora, já que me sinto mais feliz que antes. Por outro lado também o facto de ter uma maior regularidade no sono, descansando de forma mais profunda me ajudou a estar mais disponível para os desafios diários que a vida nos oferece. Hábitos saudáveis ajudam mentes saudáveis.
Neste momento acredito estar a atravessar um período pessoal bastante positivo, sentindo-me a viver de forma mais consciente de mim próprio e do que me rodeia, e esteja por isso a enfrentar o presente de forma mais vibrante e precisa, lutando por aquilo em que acredito. Ainda que esta luta por vezes pareça desigual, assim é o desafio de estar vivo, e quando acreditamos naquilo que nos move e temos as ajudas necessárias, cada passo é uma conquista, com o que o presente nos oferece, rumo ao que o futuro nos reserva.